Exceto o tempo, hoje, tudo é lento
A chuva, a música e o florir dos botões
O riso intenso e as memórias de outrora
São pra dizer que tudo tem sua hora
E nem sempre isso é ruim
Deixo um quadro negro, cadeiras e pincéis
Mesa de centro, criado-mudo
Portas e anéis
Um chinelo de couro
Um jarro de orquidea
Um violão e uma gaita
Tem uma flauta azul céu
Deixo anzóis
Bicicleta, carro e um banquinho
Coisas de quando eu era menino
Não levarei nada, não levarei nada;
E pra lembrarem de mim
Deixo poesias
Pensamentos tolos
Partes de mim
Ficam retratos de um menino moço
De um jovem meio louco
E um velho de sorriso assim.
Ficam também desenhos abstratos
Absurdos
Cordas, cartazes e cordel
Um papagaio, um tiziu e um balaio,
Um relógio de pulso
Quadros na parede
Marcas de pés no muro
E minha rede...
Pode ficar.
Não levarei nada, não levarei nada.
"Cumpriu sua sentença, encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre." - Ariano Suassuna
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